29 março 2009


Lançamento do livro "Elementos" 20 de Março Livraria Bertrand, em Vila Real


“Terra em Mim” é um pequeno retrato daquilo que é para mim a vida: a bênção do despertar em cada manhã, a grandiosidade das coisas simples que por vezes descuramos, na azáfama da correria quotidiana, a beleza que se impõe em cada instante, no que a Natureza nos oferece de melhor, a alegria de viver todos os dias com todos os sentidos despertos e com a alma disponível e aberta à contemplação. Mas é mais…
É também a vontade de dizer-vos que é preciso, recolher, no mais ínfimo momento, na mais simples palavra, na mais nua das situações, a verdade de cada um de nós. E só somos verdadeiros, se não formos oponentes de nós mesmos, se, na história das nossas vidas, não deixarmos que nos embarguem a voz, o coração e, sobretudo, o pensamento… Não tenho ilusões pueris, que já não tenho idade para isso, porque a realidade é crua e só se deixa consumir assim mesmo… Por isso sei que é impossível sermos um só, sempre, e em cada momento. A maior parte do tempo, temos de ser outros, ou, pelo menos, não sermos nós mesmos de verdade… Vivemos num mundo em que o ter supera o ser, um mundo de faz-de-conta em que fazemos de conta que somos, temos, fazemos e pensamos coisas que, intimamente, sabemos que não somos, não temos, não fazemos, nem pensamos realmente. Mas fazemos de conta… Porque é útil, porque é prático, porque é necessário, porque é correcto, porque nos é exigido, porque tem de ser assim… Porque não vivemos sós. Porque não somos sós. Porque vivemos e temos de ser como e com os outros… É neste ser não sendo, que nos traímos, que traímos a verdade, a nossa verdade, que traímos a terra que é sempre uma… e que traímos os outros, que nos julgam com as provas que lhes damos e que não são, nem de perto nem de longe, as que fazem de nós um ser só, único, uno… É desta miscelânea de “eus” que não são eu, que nasce o grito de revolta e de descontentamento com a vida que se me impõe, a cada instante… E é essa multiplicação de faces que gostaria de não ter, que gostaria de não dar e de não receber, de cada um dos outros que, como eu, se traem no que são não sendo... Deixo-vos, por isso, e porque, como disse, não quero maçar-vos, com apenas um poema que é um hino a essa ausência de verdade, em todos nós. O resto, reservo à vossa leitura do “Elementos – Terra em Mim”:


Dina Cruz

3 comentários:

  1. Viver na verdade, e vivê-lo como dizes e bem, acima de tudo connosco próprios, é na realidade difícil. Não gosto desta palavra, porque impõe barreiras, prefiro dizer: Ainda não é fácil. O "ainda não" deixa sempre a porta aberta. Viver de acordo com o coração parece mais complicado do que é. Isto cá para mim, é claro. O desafio está em saber "pagar" a factura, porque a inconveniência que podemos assumir perante os outros, é de facto gritante. Mas antes isso, do que viver atrás de máscaras que apenas espelham aquilo que não somos. Tens razão quando dizes que por vezes tem de ser assim. Mas assumir essa máscara, seja por que motivo for, não será assumir um eterno compromisso com a fuga ao nosso Ser, e a tudo aquilo que desejamos no nosso intimo? O ter só vence, e é verdade que vence, porque nos esquecemos de desejar mais no coração os "assuntos" do Ser, em detrimento dos "assuntos" do que está ao alcance da nossa mão, porque nos torna a vida mais conveniente e menos complicada.
    É um bocado contraditório, pois é quando investimos no nosso Ser, na nossa verdadeira quintessência, que estamos a dar mais um passo no caminho do ter. Mas às vezes, nem sabemos muito bem que essência é essa a nossa, justamente porque fomos "obrigados" a assumir papéis de modo a sermos aceites, num mundo que precisamos de compreender.
    Tanto que aqui dizes Dina, tanto mesmo. E tanto que se poderia escrever, mas sim, também me sinto a "maçar-te".
    Deixo-te um beijinho, daqui de muito perto da infância, e um grande PARABÉNS por esta "conquista" do teu Ser em forma de livro.

    Bem Hajas.

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  2. Este poema anula qualquer elogio, tamanho a sua força e expressão...

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