25 março 2010

Cabelos pretos

Cabelos pretos…

Agora
Em meio deste vento (não espero por ti não esperarei mais por ti…)
Quero agarrar ventos que te sopram do poço
Quero segurar terras e caminhos
Sorrisos…
Os teus doces pretos cabelos pretos

Flutuando belos (não espero por ti não esperarei mais por…)
As raízes da tua voz ()
Agora
Que do poço
Raiam auroras
Rasgam em mim
Os humores do teu peito

Ficas entre mim
E esse vento
Esse oceano de tempo e de saudade
Vidas
Outras vidas
Ventos que te sopram do poço
E te incendeiam sem parar…
Numa mortalha bela e louca do vento que te propaga do mar que te navega…
e
(Espero por ti não esperarei mais por ti guio-me de ti, curo-me de ti...)

Rocamadour

22 março 2010

A borboleta que arranca a vida

Enquanto ela fervilha e alcança
A acácia negra habita os céus e estranha a doença
Ela não foge nem alcança – ((a vida é só um imenso salpicar de areia saltando da cachoeira))
Essa negra erva que galga esse delírio;
Esse colírio;
Esse pequenino pardal;
Asas puídas de um papel às cores (das minhas barbas ouço que se me rasgam as saias)

Como será possível deitar-se perdidas umas flores tão belas?
Onde foste buscar esse sorriso ?
E as tuas negras saias de folhos…
(Auroras verdes azuis culminando o vazio saltitando ao frio)
Por enquanto bordadas a linho!
Adiante, na berma do carreiro
Ao fim da noite
Um pedaço de calor te tocará
O ventre! (meu inteiro! como eu quero esse ventre quente esse suave ausente…)

Serás um chorrilho de água e um moinho de pedra molar
(habitarás insana uma pedra inculta! Uma muito longa noite…)
Olvidarás uma framboesa selvagem
Erguendo o vazio
Desses olhos de águia…

Despencará às loucas pelo céu acima
O azul celeste da borboleta que arranca a vida…

Rocamadour

Farol

Ao fundo da tua rua há um farol
Haverá sempre um farol...

Porque há palavras que te brotam da alma
com a força das correntes
que nunca te agrilhoarão
nem voz
nem pensamento

Porque és de betão
de rocha dura
de cristalino diamante

Porque o farol és tu

Dina Cruz