29 abril 2011

Quatro paredes pintadas de rosa...

Era uma sala enorme de paredes rosa-pálido. Pálido. Como os dias que ali se arrastavam moles e desertos de sorrisos.

Nas inúmeras mesas individuais, escondiam-se rostos inertes em frente dos ecrans quadrangulares dos computadores abertos à dolência das manhãs e das tardes sonolentas… O tic-tic das pontas dos dedos tocando as teclas frias dos aparelhos lembrava melodias de cigarras e despertava vontade de cigarros.

Era uma repartição como tantas outras, onde alguns trabalhavam a metro, outros a milímetro… Ali se teciam novelos inenarráveis de papéis para reciclar. Relatórios de relatórios eram produzidos a uma velocidade estonteante de delírio. Grelhas e grelhas e grelhas eram preenchidas, sem dó nem piedade, com algarismos e dados que nasciam do tudo e do nada.

Uns atrás dos outros, em quatro filas quase intermináveis, os trabalhadores fixavam-se nas folhas brancas que se acumulavam em molhos por cima dos móveis repletos de documentos imberbes.

Era o caos organizado.

Era o delírio colectivo.

Era o tédio visceral.

Era o esquecimento da vida.

Era o sol que se vislumbrava no alto da sebe do pátio recto, empedrado, castrador…

E o tempo parado, atrasado, relapso…

E o fim do dia que não chegava nunca.

E os quinze minutos para um café sôfrego e nervoso.

E a rubrica na folha gasta de papel, à entrada e à saída. À entrada e à saída…

E a dor no fundo das costas. E a cabeça a estoirar. E os olhos a arder de cansaço. E o ar que faltava. E o alento que faltava. E a vontade que partira há muito…

Lá fora…

Lá fora o mundo!

O mundo todo numa folha de papel aberta às mais ansiadas aventuras e ilusões. E eram moinhos. E eram gigantes. E eram batalhas. E eram passeios abandonados em bosques com cheiro a água, a pedras e a rosmaninho. E eram bandos inteiros de andorinhas. E eram nuvens, cavalos, bisontes, girafas e leopardos. E eram meninos jogando à apanhada e às escondidas. E eram flores e frutos perfumados de polpa doce e sumarenta. E eram praias de areia branca e quente a perder de vista. E eram oceanos de profundo azul em espirais de espuma, água, sal e maresia. E eram ilhas perdidas sob o céu repletas de palmeiras. E eram noites de delírio e som e cores servidos em copos altos com guarda-sóis de papel. E eram danças, corpos nus e desvario à luz da lua e ao som do mar. ..


Dina Cruz

1 comentário:

  1. Então sra. professora Dina o meu livro?
    Falei com o formador joão e por ele pode, trocar a aula de segunda.
    mas segundo ele me disse, na próxima segunda era a professora de inglês.
    Tente amanhã falar com ela
    hoje é o dia sem componente letiva.
    meu mail pessoal: dsgomes@hotmail.com

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